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São Vicente e Granadinas – Onde os "Piratas do Caribe" atracaram.

Trinta minutos. Esse foi o tempo aproximado para voar de Santa Lúcia para São Vicente e Granadinas. Quando eu mal terminava de subir já estava na hora de descer e fazer a aproximação em E.T. Joshua, o principal aeroporto desse país. Mesmo com o vento de calda, fui instruído a pousar na pista 7, em direção à ilha, já que na direção oposta um morro poderia obstruir minha aproximação. Pousei com uma velocidade bem maior do que o costume devido ao vento, mas não me preocupei por ter bastante pista disponível. Foi fácil e rápido. 
Mas não foi o mesmo para os escravos foragidos e naufragados que chegaram de Santa Lucia e outras ilhas, alguns séculos atrás.
Pintura retratando escravos foragidos e naufragados que chegaram de Santa Lucia e outras ilhas para San Vincent Essa pintura exposta no museu do Forte Charlotte retrata a chegada “milagrosa” dos escravos após o naufrágio de um navio em 1675. Segundo o museu e outras fontes na internet, esses escravos africanos  foram bem vindos na ilha pelos índios caribes, mas os mesmos “impediram agressivamente a colonização de São Vicente” pelas expedições britânicas e francesas até o século XVIII. Desde então, essa até então colônia, passou pelas mãos dos franceses e dos britânicos até conseguir a independência em 1979. O fato que chama atenção é que o chefe de estado da ilha ainda é a própria rainha Elizabeth II, como aparentemente ainda acontece em outros países.
Dessa vez achamos nosso teto pelo airbnb. Para quem não conhece esse é um site onde pessoas do mundo todo, como eu, alugam seus espaços, quartos ou casas para viajantes a um preço geralmente melhor do que hotel e com mais a oferecer. Por exemplo, por um pouco mais de U$50 por noite encontramos uma casa completa com dois quartos e uma linda vista para as montanhas cobertas por matas tropicais. O taxista, arranjado pela própria dona da casa, nos levou do aeroporto até a casa num caminho de aproximadamente 10 minutos que me fez sentir numa montanha russa. Dificilmente se estivéssemos hospedados num dos hotéis que o guia do Caribe (para pilotos) aconselha, teríamos tido as experiências que tivemos.

 

Vista da casa que alugamos

 

Muita gente que viaja com frequência tende a ser um pouco crítico com relação aos turistas. Eu sou um deles. As vezes eu tento evitar um lugar por ser “turístico” demais ou fico observando com uma certa uhm, “arrogância”, centenas de pessoas desembarcando de um cruzeiro para “conhecer” um país por algumas horas. Eles conhecem o país pela fachada, compram os souvenirs que retratam as cenas exóticas que talvez nem eles mesmo conheceram. Deixam para conhecer as cenas de locação de “tal” filme ao invés de conhecer um importante marco histórico daquele lugar. Como eu! Decidi então conhecer a cena de locação do filme Piratas do Caribe que segundo o guia: “Esse lugar só pode ser alcançado por barco”. Mas basta uma caminhada pelo centro de Kingstown, a capital do país, e trocar algumas palavras com o povo local para saber: “É claro que você pode chegar lá de ônibus”.
Van lotada andando com pressa pelas curvas da ilha
Eu fiquei na dúvida se o autor do meu guia realmente não sabia dessa façanha (nem teve muito trabalho em saber), ou se ele simplesmente achou melhor não citar que sim, em menos de uma hora numa estrada em uma van-lotação poderia chegar “sobrevivido” ao local da filmagem. O trajeto fez com que eu, o Don e Rafael trocássemos olhares desconfiados pela forma como a van era conduzida naquelas estradas, mas a experiência se somou a nossa lista de aventuras e apesar dos frios na barriga eu me senti seguro (nem tanto como voar, mas…) Chegamos no local e uma placa surrada nos dava boas vindas a Wallialabou Bay.
Place de bem vindo à Walliabou beach, onde foi gravado "Piratas do Caribe"
Praia onde foi gravado o filme Piratas do Caribe
 
Descemos para a praia onde supostamente gravaram o blockbuster, mas fora as águas caribenhas e a linda e reclusa praia de areia preta, não havia muito que indicasse que ali foram gravadas as cenas do famoso filme da Disney. O restaurante que serviu de cenário para a vila do filme e onde na internet ainda diz: “Nós decidimos manter o cenário de filmagem e preservá-lo, estamos constantemente trabalhando no processo de restauração”, estava tão quieto que parecia não ter sobrevivido as arruaças dos piratas. Mais tarde acabamos descobrindo que a verdadeira maldição tinha sido um furacão que alguns anos atrás acabou arrasando o lugar. Nas paredes do restaurante várias fotos velhas mostravam as cenas de filmagens e os atores de Hollywood (como Johnny Deep e Orlando Bloom) interagindo com o povo local mostrando sua simpatia e “humildade”. Mas assim como o autor do meu guia as estrelas “pareciam não saber” que havia estrada que chegasse aquela baía já que, segundo nossa garçonete eles chegavam de lancha direto do hotel onde se hospedavam.
Enquanto saboreávamos um peixe e a tranquilidade absoluta daquele lugar, chegaram duas senhoras de pele clara, de saia e um homem de pele escura. Meu primeiro pensamento: “Duas freiras e o motorista”.  Aí eu me pergunto: Quantas faces tem o preconceito? Como pode eu, uma pessoa que achou um absurdo quando soube que minha amiga Fiona, aeromoça da British Airlines que conheci em Cuba, por ser negra, era constantemente interrogada nas ruas de Havana quando vista com uma tripulação gringa por ser confundida por prostituta? Que diferença existe entre meu pensamento e  o trabalho dos oficiais cubanos? A verdade era que uma das mulheres (canadenses) Darlene, era casada com o caribenho, Gary e a outra mulher era sua irmã de visita do Canadá. Eles acabaram sendo a “cereja do bolo” (que brega!) da nossa visita. Graças ao Don que tem como ninguém uma das maiores qualidades de um viajante: Saber falar “oi” aos estranhos. Eles acabaram nos oferecendo uma carona de volta à capital e nos mostrando paisagens, lugares e um por do sol que dificilmente veríamos de outra forma. Darlene, com toda simpatia, fez espaço entre as ferramentas de jardinagem com que trabalham na van e Gary, todo sorridente e descontraído era cumprimentado e cumprimentava buzinando muitas pessoas durante o trajeto. Acabamos fazendo uma parada num hotel/resort onde eles tentavam conseguir serviço e o que vi foi no mínimo interessante. Uma praia de areia branca exclusiva para os hóspedes separada por uma cerca da praia pública. 
De areia preta.
Quando sobrevoei a ilha era claro que sua costa é predominantemente escura formados por areias e rochas pretas devido à fragmentos de lavas vulcânicas nesse caso oriundos do vulcão ativo: La Soufrière. Depois de analisar as fotos que tirei enquanto sobrevoava a ilha,  as únicas praias de areia branca eram “tomadas” pelos hotéis da ilha. Mas aquela cerquinha dividindo a mesma praia entre areia preta e branca me dizia algo mais. Aquilo era necessário para vender que no país: “a Villa Beach oferece areia branca e uma variedade de opção de alojamento” como exemplifica o guia que eu tenho do Caribe.

 

Foto aérea de San vincet, no caribe, fotografada de um cessna 172
Repare a única praia de areia branca

 

A beleza que eu vou guardar de São Vicente e Granadinas, apesar de eu não ter conhecido de fato as partes “granadinas” do país, vai muito além de praias de areias brancas (ou pretas) e fachadas turísticas. 
Foto aérea do aeroporto de Bequia, visto de um cessna 172
Aeroporto de Bequia (TVSB)

Vídeo do voo de San Vincent e Granadinas à Grenada:

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3 Comentários à São Vicente e Granadinas – Onde os "Piratas do Caribe" atracaram.

  1. solange 14/07/2013 at 22:54 #

    Que vontade de estar neste lugar com os meus amores!!!

  2. Gisele 28/06/2013 at 17:53 #

    Que lugar maravilhoso! nao conhecia…quero ir!

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